Quantas histórias ouvi na infância, no nosso sítio Asahi, em Duartina, no interior de São Paulo. Até hoje convivo com esses personagens nos livros que crio.
Segundo contava a minha avó, a Yamauba era uma bruxa das histórias japonesas que pegava crianças. Será que ela ficava só nas montanhas do Japão? Ou estaria escondida em algum mato perto do cafezal?
A avó falava também dos kappas, entidades dos lagos e rios, travessos, que vinham roubar pepinos. E o Kaminari? Ele fazia aquele barulho, riscava o céu com relâmpagos, depois espalhava a chuva.
- Cuidado, não deixa o umbigo de fora, o Kaminari pode levá-lo- alertava meu avô. Se trovejava enquanto estávamos no banho, eu e meus irmãos saíamos correndo para pôr roupas. Ter o umbigo roubado? Nunca!
Ah, os onis também viviam me assustando, eram enormes, muito maus. Ao ouvir essas histórias, o problema era ir fazer xixi de noite. Porque a casinha ficava do lado de fora, tudo escuro, só na luz do lampião.
Mas, se era noite de Lua cheia, a avó apontava para o alto e dizia:
- Olha, olha para as manchas na Lua. É o coelho fazendo bolinho de arroz.
- Vó, é a mesma Lua do Japão? - eu perguntava.
- A mesma, o coelho está lá.
Na Lua que boiava acima do cafezal, o coelho socava arroz num pilão.
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Lúcia Hiratsuka é escritora e ilustradora, autora de livros como "Urashima Taro" (ed. Global), "Histórias de Mukashi" (ed. Elementar) e "Contos da Montanha" (Edições SM) e outros.
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